sábado, 12 de junho de 2010

Vagueira, marca

A convite de alguns dos membros fundadores da recentemente constituída Associação Empresarial da Vagueira, também amigos de longa data, para a elaboração de uma marca para a nossa praia, desenvolvi o trabalho que aqui apresento.

Tive o cuidado de deixar bem claro a este grupo que o meu papel na resposta a este pedido não se deveria confundir em momento algum com o da necessidade da elaboração de um rigoroso processo de Branding, feito por um especialista da área, acedendo eu e sem me querer fazer passar por algo que não sou, dentro das minhas competências profissionais como artista plástico, ajudar naquilo que estaria ao meu alcance e das minhas faculdades como tal.

Pesou no veemente pedido, certamente, o amável e gratificante reconhecimento desse grupo de amigos pelo meu trabalho como pintor, assim como o meu conhecimento da realidade cultural, social e até geográfica da praia da Vagueira. Pesou na minha resposta, não a vontade de ceifar seara alheia, mas a de, esclarecidas as circunstâncias, colaborar de forma humilde mas dedicada, com algo que, nesta terra ouse se levantar da aridez do chão e por me parecer genuíno e bem-intencionado, merece este meu pequeno apoio.

É para mim, há mais de quarenta anos, um local que elejo por motivos vários. Desde logo, por tradição familiar se ocorria a este lugar por tudo e por nada – desde que me lembro como gente, aqui se fazia a praia, as pescarias, as caldeiradas no inverno. Mais tarde os emancipados passeios de bicicleta, os romances com sabor a óleo de coco de cada campanha estival. Os mergulhos e cagaços no mar gélido, conquistas com sotaque pelas dunas e a Vespa amarela, cavalo fumegante e fiel, pingando óleo e amor… pelas, agora avenidas, caminhos de macadame ondulante, de então.

Assim, pondo mãos ao trabalho, tratei de procurar o elemento unificador, a matriz primordial deste lugar e das gentes que nele vivem e trabalham – cruzar o pitoresco da Xávega com as mais recentes artes da vida - o gesto e o grafismo mais remoto que me ocorreu foi o Pentagrama. Sino Saimão para estas bandas, é a marca mais entranhada na cultura destas gentes. Manifestação pagã que assinala a fé e a coragem na proa do barco. O compromisso selado com as forças da Natureza. Sinal que se esqueceu por baixo da demão Robialac mas que a cabeça ainda lembra e a mão exercita como prova de passagem. Afirmação da estirpe, cunho de rebeldia, gatafunho provocador… benzedura e quebra-enguiço…

fernando gaspar, junho de 2010


Algum do material que consta da pesquisa e Apresentação do trabalho:

O objectivo deste trabalho é o de criar uma marca visual para uma Praia da Vagueira, capaz de a representar dentro e fora dos seus limites geográficos, nas diversas vertentes da actividade empresarial, social e cultural.

A partir da utilização da iconografia popular típica de uma das manifestações mais intrínsecas das suas gentes – Arte Xávega – pretende-se reabilitar o gesto gráfico, outrora rude e empírico, para uma versão mais intencional e consentânea com as exigências imagéticas actuais, mantendo e preservando o seu valor mágico e simbólico, numa perspectiva unificadora e identitária das gentes naturais e das que tem escolhido esta terra como sua.

O icon identificado com a Arte piscatória da Vagueira é a Estrela de Cinco Pontas, Pentagrama, Pentalpha, Signum Salomonis, Sino Saimão.

A única certeza associada a esta figura geométrica é que ela faz parte das representações gráficas mais remotas da inteligência Humana. Pelo mistério que encerra na sua carga simbólica e mágica, tem despertado ao longo da história interesse e dedicação, desde Pitágoras, Leonardo Da Vinci, Goethe, Levi, etc.

Contrariamente a outros símbolos usados em embarcações da nossa costa, cuja fonte mais provável será a influência náutica mediterrânica, o Pentagrama pode ter também uma origem em culturas mais Atlânticas.





















Pentagrama Druida



















Origem e data não identificada

















Pentagrama, Da Vinci
























Sino Saimão, parede em Gafanha da Boa-Hora
























Sino Saimão, prôa de barco moliceiro

















Pentagrama, esquema geométrico
























estudo de logo, mão livre
























logo, final


maio e junho de 2010
fernando gaspar, pintor

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